Sou, mais eu...

Sou o que sou

Misturado

A um pouco

Do que o outro

Pensa que sou;

Sou o que fui

Fui o que sou

Sou o que serei

E serei

Ainda o que não sei

Logo, não

Sei quem sou

 

Penso logo, existo

Persisto

Em pensar

Para ser

Maior que meu ser

E neste mundo

Meu lugar fazer

A fim de sobreviver

 

Sou o meu presente

Em frente

Meu futuro

No fundo

Meu passado

De repente

Sou diferente

Da diferença

Do igual

De toda gente

 

Sou poeta

 

Aquele que transforma

Gritos em letras

Lágrimas em rosas

Sentimentos em palavras

Silêncio em conversas

E tristezas em prosas.

 

Sou poeta...

Aquele que caça rimas

Pesca nostalgias

Cozinha maravilhas

Se alimenta das feridas

E vive num mundo de fantasias.

 

Sou poeta...

Aquele que fala de coisas imaginárias

Histórias vividas

De coisas sem vida

Algumas escondidas

E outras que nunca foram vistas.

 

Sou poeta...

Aquele que dá alma às cartas

Sorriso às páginas

Diz coisas exageradas

Conta coisas achadas

E muitas vezes coisas contadas.

 

Sou poeta...

Aquele que escreveu estes versos

Na companhia da caneta

Solidão e algumas folhas

Enfim, aquele que dos seus olhos

Caíram estas letras

 

Separação

 

Vou deixar-te

Mesmo sabendo que muito irei chorar

Mesmo que vou magoar-te

Saiba que não conto ficar

 

Certamente ninguém

Me amará como me amas

Tenho que te deixar,

Mesmo que terei saudades;

É que os caminhos do coração

São impenetráveis

Tenho que seguir,

Mesmo que eu derrame lágrimas

 

Me amaste, e eu!

Não me percebeste,

Sempre estiveste do meu lado

Fui egoísta, e tu!

Muitas vezes me perdoaste.

Hoje é com muita dor que parto

Parece paradoxal

Mas estou a sentir muito mal

 

Vou deixar-te

Mesmo sabendo que muito irei chorar

Mesmo que vou magoar-me

Vou abandonar nosso lar.

 

Homenagem á Cesária Évora

Sodad, sodad, sodad

Ainda que mulher d’idade

Tua voz tinha essa capacidade

De tocar a nossa profundidade

 

Petit Pays…

Cesária, tu nous a tous unis

Avec ta voix hors prix

Cesária tu nous a beaucoup rejouit

 

A vida é uma,

Cesária é única.

A eternidade será insuficiente

Para nos fazer esquecer esse incidente

 

A diva dos pés descalços

Cansou-se de pisar esses palcos

Conhecidos e desconhecidos

Hoje deixaste o teu povo em prantos

 

Cize, esse é o sobrenome

Que teu povo te acolhe

A figura que nunca morre

És a voz de Cabo-Verde

 

Rainha da morna

Tua voz acariciava o microfone

Tua música transforma almas

Rainha será para sempre teu nome

 

“Quem mostrob es caminhin longe.”

Á ti Cize

O adeus é indolente

Por isso te digo, sodad, sodad, sodad…

 

Deus existe e lhe Traí

 

Na dúvida

Do entender

Está o ser

Que monopoliza

Todo poder

Sem ser ditador

Concedendo

Total liberdade

Sem parecer

Ignorante

 

Penso, logo hesito

Quanto á existência

Do divino.

Seja sim, ou não

Nada é garantido

Por isso

Que no entender

De cada dúvida

Duvido desse ser

 

Quem és tu?

Que foges

Da humanidade

Por covardia

Ou necessidade

Vergonha ou complexidade

Só tu sabes

Oxalá se te

Cruzar, um dia

Ei de te perguntar

O que estou a duvidar…

 

 

Não me fale do Amor

Por favor, não me fale do amor!

Podes me bater

Minha cabeça até cortar

Mesmo se vou vencer

Ou saber que vou gostar

Não me fale do amor!

 

Já te disse que não quero!

Podes falar-me do inferno,

Fala-me da dor

De coisas de terror

Histórias sem fim

Tudo isso, podes contar pra mim.

 

Fala-me da saudade

Diz-me palavras sem piedade,

Mesmo si for de um grande escritor

Não me fale do amor!

 

Já te falei que não!

Mesmo que fora uma canção.

Fala-me da razão

Até mesmo, coisas do coração

Mas à uma condição,

Não me fale do amor!

Homens também choram

 

Seja homem!

Não chora

Atoa nunca

Chora

Homem que é

Homem contêm

Sua mágoa

Nunca chora

 

Covarde!

Não és digno

De homem ser

Chamado

Teu nome homem,

É uma miragem

 

Homem que é

Homem contem

Mantem, Finge

Que não tem

Para não perder

O que tem [Dignidade]

 

Chorar?

Estas a brincar!

Homem que é

Homem enfrenta

Encara

Si chorar,

Esconde a cara

Porque homem

Não chora, cala!

 

Homem que é

Homem consente

Está sempre contente!

Depende…

Entristece,

Mas não chora,

Mesmo quando é hora

Homem de verdade

Não chora

É a lei da humanidade

Mas, que crueldade!

 

Por Amor

 

Por amor privei-me da razão

Vendi meu coração

Sem ter uma explicação.

Quando chegou a traição

Quebrei meu coração;

 

Por amor já sorri sem motivos

Fui além do infinito

Já falei sozinho

Também, já acordei e me vi sozinho;

 

Por amor, andei de olhos vedados

E dedos colados

Peguei o comboio sem conhecer o destino

Quando desci, me senti perdido;

 

Por amor, queimei-me com água

Apaguei com brasa

Cheguei ao ponto de não sentir a fome

Pois, estava morrendo de ciúme;

 

Por amor, vi dormir o sol

Fiz companhia á lua

Acreditei numa só verdade

Que era a sua;

 

Por amor, fiz dela a minha deusa

O seu olhar minha divisa

Seu sorriso, meu alimento

Sem falar do seu falar,

Isso não te conto, lamento;

 

Por amor, já fiz coisas que arrependi

Já vivi dependente

Vendi a minha liberdade

Em troca da felicidade

Só pra deixar de ser carente

 

Por amor, enganei á min mesmo

Lhe confiei o meu segredo

Vivi sem sentir medo

Coisa que até hoje eu m’arrependo;

 

Por amor já passei noites chorando

Dias amargos

Meses escondendo lágrimas

Anos sofrendo,

Mesmo que lhe esquecer já tinha tentado

Do meu coração nunca foi apartado

Quando lhe vi, já lhe tinha perdoado;

 

Por amor, perjurei o meu ego

Fingi ser cego

Para não ver que

demais estava entregando.

Quando chegou a realidade

Fugiu o amor, ficou a Dor

E hoje namoro a solidão

Tudo por amor…

 

 

 

Carta ao Senhor

 

Deus!

Aqui está cada vez

Mais difícil viver

Vem ver e talvez

Iras compreender

A tal desordem

Nesse mundo de Homem

 

O sol já nem sai de casa

A terra coitada!

Vi o céu chorar

Diante das calamidades humanas

Fala com a lua

Ela presenciou

Viu o grau da violência;

Agora o difícil é amar

Matar, essa realidade crua

Já é moda da cidadania

 

Senhor!

Estou escrevendo

Esta carta,

Coisas do mundo

Relatando

Um lugar nos céus

Implorando

Porque viver aqui

Já não estou suportando

Vem ver talvez

Iras compreender

Que já é difícil viver

Nesse mundo e ser

Humano...

Pobre e Rico

Rico escolhe

O que come

Pobre lhe emita,

Por isso passa fome

 

Pobre exagera

Rico calcula despesa

Entre rico e pobre

Há uma só diferença

 

Rico nunca esquece

Que pobre um dia foi

Lutando todo dia

Vai levando a vida

 

Pobre tem esperança

De uma vida melhor

Rico esforça para ver

Fruto do seu suor

 

Ser pobre

Está na mente

De quem pensa

Que pobre é…

 

Gaste menos

Ganhe mais

Gere geral, gere,

Ganharas algo a mais.

 

 

  Lobisomem

Saudades 
Da outrora 

Quando no escuro
Minha maior
Preocupação
Fora o diabo
Não o Homem

Homem de dia
A noite lobos
Soltos
No escuro
Até diabo
Tem medo
Do que vê

Nova era
Novos erros
Depois que homem
Tornou-se lobo
Diante de outro 
Lobo semelhante
Que era homem antes

Desse tempo
Nostálgico 
Sinto o cheiro
Mas não vejo 
Como aceder
E nem pra onde
Dirijo…

 

Gravidez Precoce

 

Manhosamente perseguidas

Na quietude das noites

Pelos latidos dos miúdos

Hoje chora às escondidas

Fazendo conta á vida e às luas

 

Adeus! Adeus aos sonhos,

Á liberdade e a esperança

Que secará com o primeiro

Leite do primeiro filho

Fruto de um mero descuido

 

Dezasseis anos! Onde já se viu!

Á dias que cantava, dançava

E á gargalhadas, sonhos colecionava

Hoje penosamente carrega

Sozinha, uma enorme barriga

 

E as ilusões vão se afundando

Nos vómitos da gravidez

Os sonhos impiedosamente

Nas lágrimas de todas as crianças

Traídas e esfomeadas

 

A natureza não soube fazer contas

Não se devia carregar culpas

Nem vergonhas, aos dezasseis anos!

Quem pode ter toda essa força?

Uma adolescente forçadamente mulher!

 

Deveria haver regras

Aos 16 anos, não se devia ter filhos.

Como encontrar o consolo

No meio de tantas lágrimas

De uma adolescente forçosamente mãe!